* Por Rafael Araújo Silva
A RSA Conference 2025, realizada em San Francisco, não foi apenas mais um evento do setor de cibersegurança. Foi um reflexo claro das transformações que estão moldando o futuro da proteção digital em tempos de incerteza e evolução acelerada. Com o tema “Many Voices, One Community”, o evento reuniu mais de 43 mil profissionais de 140 países, deixando evidente uma verdade: o futuro da cibersegurança será colaborativo — ou simplesmente não existirá.
Colaboração: mais do que uma vantagem competitiva, uma necessidade
Com a velocidade crescente dos ataques cibernéticos e sua sofisticação cada vez maior, a colaboração não é mais apenas um diferencial competitivo; tornou-se uma questão de sobrevivência. Na conferência, essa necessidade ficou evidente, especialmente quando falamos dos ISACs (Information Sharing and Analysis Centers), centros que unem organizações de setores semelhantes para compartilhar dados de ameaças e construir uma rede de proteção coletiva.
Imagine uma ameaça aparentemente pequena, mas que, ao ser compartilhada no momento certo, tem o potencial de evitar desastres em cadeia. Essa é a lógica dos ISACs: integrar inteligência e antecipar movimentos de atacantes antes que se tornem crises generalizadas.
A ascensão da IA agêntica: máquinas no controle
Outro tema forte da RSA 2025 foi a rápida evolução dos agentes autônomos baseados em inteligência artificial (IA). Não estamos mais falando de simples assistentes que apoiam a análise humana. Estamos diante de sistemas que identificam, aprendem, reagem e tomam decisões em tempo real, muitas vezes sem qualquer supervisão humana direta.
Empresas como Cisco, CrowdStrike, Palo Alto Networks e Fortinet trouxeram ferramentas que vão além do suporte ao analista — elas reconfiguram políticas de segurança, iniciam respostas automáticas a incidentes e analisam comportamentos de rede, tudo de forma independente. A promessa é clara: mais agilidade, menos falhas e redução de custos operacionais.
Mas a pergunta que ficou no ar é: quem fiscaliza as decisões dos algoritmos, que muitas vezes nem mesmo seus criadores compreendem por completo? Se a eficiência é um grande atrativo, a falta de transparência pode ser um risco que precisamos gerenciar com responsabilidade.
O novo papel do CISO: liderança estratégica e responsabilidade
O papel do CISO também está passando por uma transformação. Não basta mais dominar a tecnologia. Agora, o desafio é conectar riscos digitais a impactos de negócios — desde a reputação até a sustentabilidade das operações. A segurança da informação, antes restrita aos bastidores da TI, está se tornando cada vez mais uma pauta estratégica para a liderança corporativa.
Innovation Tour em Berkeley: IA, robótica e humanoides
Durante o Innovation Tour na Universidade de Berkeley, especialistas e participantes exploraram o impacto da transformação digital e da IA nos negócios e na sociedade. Foram apresentados cenários impressionantes que vão muito além da cibersegurança tradicional:
- Robótica Médica: A aplicação de robôs em cirurgias complexas já é uma realidade, destacando como máquinas assistidas por IA podem atuar com precisão em procedimentos críticos;
- Robôs Autônomos na Segurança Pública: Exemplos como o robô PM01 da China, utilizado para patrulha e interação com cidadãos, destacam a evolução dos agentes humanoides na segurança urbana;
- Autonomia Veicular: Carros autônomos e caminhões de última geração mostram como a IA está transformando não só o transporte, mas também a logística e a segurança no trânsito;
- Drones de Combate e Vigilância: Equipados com IA avançada, drones de combate e monitoramento já são usados para operações militares e de segurança, destacando o poder de decisão autônoma em contextos críticos;
- Humanoides em Aplicações Cotidianas: Robôs como o K5 da Knightscope e o Spot da Boston Dynamics demonstram como a robótica está cada vez mais integrada ao cotidiano, tanto para monitoramento de segurança quanto para apoio logístico.
Esses exemplos reforçam que a convergência entre IA e robótica está criando um paradigma: máquinas capazes de aprender, interagir e tomar decisões no lugar dos humanos.
A ética na inovação: não basta acelerar, é preciso refletir
Ainda durante o tour, um ponto crítico foi debatido: a pressa em adotar novas tecnologias está sacrificando a governança? Se por um lado, o avanço da IA traz eficiência e precisão, por outro, surge a preocupação com os impactos éticos, especialmente na substituição de tarefas humanas e na tomada de decisões autônomas sem supervisão adequada.
Errar faz parte do progresso, mas o erro não pode ser fruto de negligência. A busca pela inovação precisa caminhar junto com a responsabilidade.
O futuro da criptografia: preparando-se para a era pós-quântica
Se a IA representa o presente, a criptografia pós-quântica já surge como o próximo grande desafio. A ameaça é real: computadores quânticos podem quebrar algoritmos de criptografia atuais em minutos. O risco é comparável ao “bug do milênio”, só que muito mais complexo, exigindo um esforço global para atualizar nossas infraestruturas de segurança antes que se tornem obsoletas.
Reflexões Finais: colaboração, tecnologia e liderança
O grande aprendizado da RSA 2025 é que a confiança cega na tecnologia precisa dar lugar a uma maturidade crítica. Agentes autônomos são poderosos, mas não infalíveis. A criptografia de hoje pode se tornar a vulnerabilidade de amanhã. A criação de bases regulatórias e práticas técnicas para essa nova era é urgente. A boa notícia é que a conversa já começou, e cabe a todos nós mantê-la viva e ativa, evoluindo dia após dia. A grande questão continua sendo nossa capacidade de liderar a tecnologia com visão, responsabilidade e colaboração.
Por fim, acredito que o futuro da cibersegurança está na união da inteligência artificial com a inteligência e sabedoria humana. A tecnologia sozinha não resolve os problemas complexos do mundo moderno; é o equilíbrio entre automação e análise crítica que nos permitirá enfrentar os desafios com eficácia e ética.
*Rafael Araújo Silva é diretor de negócios da Teltec Solutions