Urgência ambiental, modelos de negócio e desafios de ações públicas e privadas marcam o primeiro Circular Summit

Urgência ambiental, modelos de negócio e desafios de ações públicas e privadas marcam o primeiro Circular Summit

Nos dias 11 e 12 foi realizada a primeira edição do Circular Summit, evento organizado pela Associação Brasileira da Indústria do Plástico (ABIPLAST) em parceria com a RX (Reed Exhibitions). O encontro virtual reuniu líderes empresariais, CEOs e representantes do poder público para debater novos modelos de negócios baseados em economia circular, em uma década decisiva. A jornada, inclusive, foi realizada na mesma semana em que a ONU divulgou relatório alarmante sobre o clima no mundo, com informações que reforçam a urgência de mudanças. O Circular Summit foi um evento neutro em carbono.

O primeiro dia foi aberto com explanação dos organizadores. José Ricardo Roriz Coelho, presidente da ABIPLAST, destacou que o plástico é o propulsor de mudanças em todos os segmentos industriais, uma vez que está presente em mais de 90% da matriz industrial brasileira. Já Claudio Della Nina, presidente da RX, disse que “o propósito do evento é inspirar líderes e empresas de todos os setores a perseguirem um modelo de crescimento mais consciente, repensando seus modelos de negócios e processos de fabricação, estabelecendo uma nova relação com os recursos naturais e sua utilização”.

Na sequência, a keynote speaker Catherine Weetman, fundadora da Rethink Global e uma das maiores referências sobre economia circular no mundo, deu uma verdadeira aula sobre o conceito, trazendo diversos exemplos aplicáveis de como as empresas podem direcionar investimentos para modelos de produção inteligentes. Entre eles, o da Fairphone, que projeta os seus produtos com o intuito de serem reparados e reutilizados para que tenham mais produtividade e vida longa. Ela citou o exemplo do seu próprio aparelho, adquirido em 2016: “Se o microfone quebrar, basta entrar em contato com a empresa e fazer um diagnóstico, pelo qual é possível descobrir o módulo que precisa ser reparado. Eles encaminham para minha residência e, se for possível, eu mesma troco”.

Outro participante de peso foi Gonzalo Muñoz Abogabir, cofundador da TriCiclos, que tratou do tema “Iniciativas Públicas”. Sobre o entendimento de economia circular como investimento, ele explicou que “cada vez mais a classe empresarial tem assumido sua responsabilidade e protagonismo na solução sistêmica de desafios ambientais, sociais e econômicos e, dessa forma, há uma aproximação necessária com o poder público, para que atuem de forma colaborativa”. 

O último painel do dia, “Os desafios do Brasil em Logística Reversa” reuniu o presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), Igor Calvet, a diretora presidente da CETESB, Patrícia Iglecias, o gerente de  novas tecnologias e meio ambiente da Estre Ambiental, Antonio Otavio Neves Januzzi, e o gerente de projetos da Veolia Brasil, Christophe Bonaldi, e teve como destaque  a economia circular como oportunidade de negócios, a tendência dos processos lineares se tornarem circulares de acordo com as mudanças das relações de consumo e produção no mundo, além de cases efetivos das empresas.

Cases efetivos também não faltaram no segundo dia do evento, que teve como pilares das apresentações a importância do trabalho colaborativo como forma de fortalecer a cadeia circular e a necessidade de reforçar o consumo consciente.

Para começar, o CFO da FAMA Investimentos, Fábio Alperowitch, destacou a mudança no sistema econômico, mais voltado para o stakeholder (público), diferente de décadas anteriores.  “Muitas empresas que têm liderado essa transição estão provando que esse novo olhar torna o negócio mais rentável, sustentável e perene a longo prazo”, explicou, durante o painel Risco Ambiental X Risco de Investimento, que também contou com a participação da coordenadora de estratégia industrial e desenvolvimento da área da indústria, serviços e comércio exterior do BNDES, Ana Cristina Costa.

Em debate, os profissionais abordaram assuntos como a mudança de estratégias das empresas diante da urgência de iniciativas que visem redução de impactos ambientais, as exigências das novas gerações, que têm estimulado uma tomada de atitudes de companhias e poder público, e as ações do banco em termos de sustentabilidade, compromissos e perspectivas, conforme agenda ambiental da ONU e a política ESG. “Cada vez mais a gente quer ser um elemento agregador, articulador e indutor das chamadas práticas ESG nas empresas, que se entrelaçam com a temática mais ampla da Economia Circular e das ODS”, apontou Costa.

Exemplo de iniciativas marcaram os dois últimos painéis do dia. Em “Os desafios do Brasil em Reinserção de Materiais”, foi abordada a importância do envolvimento de todos os elos da cadeia. A apresentação da gerente de sustentabilidade da AMCOR, Juliana Seidel, destacou as mudanças na produção, considerando desde a matéria-prima até o descarte.  “Eu não posso simplesmente olhar questões econômicas, praticidade, conveniência ou beleza, que são itens pensados no desenvolvimento da embalagem. Eu tenho que pensar agora como é que ela vai efetivamente cumprir sua função de proteção e também o que vai acontecer com ela depois”. Quem também compartilhou desse pensamento foi Gustavo Alvarez, conselheiro da Rede pela Circularidade do Plástico, que mostrou como a iniciativa tem atuado em parceria com empresas para o reaproveitamento do material. “O plástico não precisa acabar, ele tem que circular”.

Participante do painel, o Secretário de Infraestrutura e meio Ambiente do Estado de São Paulo, Marcos Penido, reforçou as iniciativas do poder público, as parcerias e a necessidade de ações de conscientização. “A economia circular só será uma realidade se em cada residência essa consciência chegar”, afirmou.  Já o head de inteligência de mercado, Carlos Jacob, do Grupo Capitale Energia, focou na apresentação de cases de sucesso da ZEG (Zero Emission Generation), empresa do grupo, que produz energia a partir de resíduos. “É importante cada um olhar para dentro do seu processo e ver as oportunidades de substituição dos combustíveis fósseis pelo renováveis como o biogás, o biometano”, analisou.

Para encerrar a programação, “Economia Circular no Centro de Investimentos” contou com as participações da diretora do segmento automotivo e infraestrutura de transportes da Schneider Electric para América do Sul, Regina Magalhães, a diretora regional de comunicação e sustentabilidade da Toyota e presidente da Fundação Toyota do Brasil, Viviane Mansi, e a CEO da Carbonext, Janaina Dallan. Em pauta, foram apresentados assuntos sobre como a tecnologia, incluindo a indústria 4.0, pode auxiliar no processo de Economia Circular, além de uma série de ações desenvolvidas pelas empresas e como algumas delas têm buscado orientação para tornar seus processos mais sustentáveis, as perspectivas e a importância de reduzir a emissão de carbono. “O conceito ESG precisa estar no DNA das empresas, precisa fazer parte do dia a dia”, afirmou Dallan.

Para quem não conseguiu acompanhar os temas, os painéis serão disponibilizados gratuitamente na plataforma www.circularsummit.com.br/